Educação

O melhor professor de 2019: o que as notícias têm a ensinar?

O professor queniano e monge franciscano, Peter Tabichi, foi escolhido o “melhor professor do mundo” pela Global Teacher Prize deste ano, prêmio concedido anualmente desde 2014 pela Fundação Varkey, de Dubai, e conhecido como o “Nobel” da Educação. O que chama atenção nas notícias veiculadas pela imprensa é que Peter foi elogiado por seus feitos em uma escola sem recursos, lecionando para uma turma de até 58 alunos e doando 80% do seu salário para apoiar os estudantes mais pobres.

Nas redes sociais, muitos usuários levantaram uma reflexão importante. E se o foco nas reportagens fosse “Escola no Quênia é tão abandonada que professor premiado precisa doar 80% do seu salário para ajudar alunos carentes”?

Talvez o centro do debate estaria na falta de infraestrutura das escolas públicas, na ausência de investimentos e prioridade do governo na Educação, na sobrecarga dos professores e nas turmas de alunos cada vez mais numerosas.

O mérito do professor queniano deve ser reconhecido, comemorado e noticiado. Afinal, não é qualquer educador que consegue grandes realizações diante de uma infraestrutura ineficiente, com falta de livros, um único computador, conexão precária à internet, crianças que não se alimentam o suficiente em casa e andam até sete quilômetros por dia para ir à escola.

Fica a pergunta: quando é que atitudes como a de Peter — e de muitos educadores — deixarão de ser romantizadas e passarão a ser responsabilidade do Estado?

O que os usuários das redes sociais levantaram é pertinente. Professores (e ninguém) não devem trabalhar só por amor à profissão.  

Peter é um exemplo inspirador de que é possível fazer o bem para a sua comunidade, mas seu caso não deve se tornar regra na realidade de milhares de professores.

As manchetes destacaram mais o ato dele doar quase todo o seu salário aos pobres, que o seu projeto desenvolvido com os alunos.

Omitiram também que não é a condição de professor que lhe permitiu doar os seus rendimentos às crianças, e sim por ser monge franciscano. E mais: não foi por doar o salário que Peter ganhou o prêmio.

Essa conquista, que lhe rendeu um prêmio no valor de um milhão de dólares (3,9 milhões de reais), foi fruto da criação de um clube de ciências no qual as crianças projetaram um método para que os cegos possam fazer medições.

Foi fruto do incentivo às experimentações que possibilitaram o sucesso de seus alunos em competições científicas nacionais e internacionais.

É preciso refletir profundamente sobre a visão romantizada, bonita e idealizada da profissão docente. Não podemos nos esquecer dos percalços enfrentados pelos profissionais.

Os salários baixos, as péssimas condições de trabalho, a violência, o desinteresse dos alunos e a falta de políticas públicas para promover uma educação de qualidade para todos.

Além de Peter, muitos professores anônimos doam tudo de si e tiram dinheiro do seu próprio bolso para manter o mínimo de condições de aprendizagem dos alunos. Mas até quando será preciso fazer isso?

Professora brasileira finalista do
Professora brasileira fica entre os 10 finalistas de prêmio mundial da educação. Foto: arquivo pessoal

Em tempo: A professora brasileira Debora Garofalo foi uma das 10 finalistas do prestigiado prêmio por seu trabalho desenvolvido com os alunos da escola EMEF Almirante Ary Parreiras, na periferia de São Paulo.

Como professora de tecnologia, ela desenvolveu o projeto “Robótica com Sucata” que transforma o lixo jogado nas ruas das favelas da capital paulista em filtro de água, semáforo, máquina de sorvete e até tecnologia renovável para substituir o gato elétrico nas casas da região.

O Brasil não levou o prêmio, mas foi muito bem representado por esse trabalho transformador.

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Por Marina Dutra
Jornalista da Sertões Editora

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