Educação

Formação de professores: por que ela é importante para a BNCC

Para que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dê certo, é preciso focar na formação de professores. Afinal, eles são o elemento-chave do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes.

Logo, o tema tem sido muito discutido na área, principalmente após as mudanças que a implementação da Base desencadearam em todo país.

Neste artigo, você vai conferir por que é preciso reestruturar a formação docente alinhada à BNCC, e os principais desafios e benefícios da reformulação na visão de especialistas da educação.

Continue a leitura.

A formação de professores: o início de tudo

A necessidade de formação de professores se tornou pauta urgente na área, uma vez que a BNCC já começou a ser implantada e muitos educadores se depararam com o desafio de torná-la realidade.

Sem a preparação adequada dos professores, não é possível trabalhar as competências e habilidades dos estudantes estabelecidas pela Base.

Essa é a opinião de Lina Kátia Mesquita de Oliveira, coordenadora geral do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“Para a Base dar certo, ela precisa invadir as universidades. Ela precisa ser inserida em uma disciplina dentro das instituições nos cursos de Pedagogia e de licenciaturas”, defende Lina.

A coordenadora alerta que se a revisão das diretrizes dos cursos não ocorrer, as instituições continuarão sempre formando o professor em profissionais que precisam de uma eterna “formação continuada”.

“Ela (universidade) tem que se certificar que aquele professor está apto a trabalhar nas escolas com a Base”, diz.

A gerente-executiva do Instituto Ayrton Senna, Inês Kisil Miskalo, também afirma que essa discussão precisa ser retomada.

“O desafio é ter profissionais bem informados que saibam trabalhar na sala de aula e integrar todas as áreas de conhecimento. Que consigam entender qual método e teoria são as melhores para aquele aluno avançar”, explica.

Para Inês, as secretarias precisam começar a demandar esse currículo nas universidades.

Por esse motivo que está em curso hoje a Base Nacional Docente. Vamos entender em que pé ela está no próximo tópico.  

O que é a Base Nacional Docente

Como falamos acima, a aprovação da BNCC levou à necessidade da qualificação da formação do professor brasileiro.

Por consequência foi criada uma proposta de revisão das diretrizes dos cursos de Pedagogia e das licenciaturas, batizada de Base Nacional Comum para Formação de Professores da educação básica.

O documento foi apresentado no final de 2018 pelo Ministério da Educação, porém seu andamento foi paralisado neste ano pelo ex-ministro Ricardo Vélez.

Agora, espera-se que o assunto seja retomado para que o Conselho Nacional de Educação (CNE) discuta as propostas com a comunidade educacional e elabore a versão final do texto.

Mas é possível entender as principais orientações que irão nortear a formação de professores com o documento preliminar. Veja abaixo!

Visão sistêmica da formação

Pela proposta do MEC, o desempenho insatisfatório dos estudantes está ligado também à qualidade do formação do professor. Hoje, uma das principais críticas de especialistas da área é que os cursos estão dissociados da prática.

As competências e habilidades dos profissionais devem incluir o domínio do conteúdo a ser ensinado e seu conhecimento pedagógico, o conhecimento sobre o aluno e o contexto, a prática e o ambiente de aprendizagem, criatividade e inovação, e compromisso com a equidade e igualdade social.

“A gente trabalha pela visão fordista que existe um modelo que serve para todos. Se tenho 50% de estudantes que não aprendem, como vou trabalhar para reduzir essa série de problemas e integrar as áreas de conhecimento?”, questiona Inês.

O documento defende o foco no aprendizagem-fim. Ou seja, no zelo pela aprendizagem do aluno para que seu desempenho se torne satisfatório.

Formação inicial (curso de licenciatura)

A formação inicial deverá superar a divisão entre teoria e prática, entre escola e universidade, entre outras. Com a BNCC em prática, será impossível que um licenciado em história se mantenha isolado de outras disciplinas.

Ou também que o professor não acompanhe as mudanças do mundo contemporâneo, com as transformações tecnológicas, econômicas e socioculturais.

A formação inicial está dividida em:

  • Diretrizes Curriculares Nacionais licenciaturas

Atualização dos cursos dividindo em três etapas distintas de formação nos quatro anos de graduação.

  • Residência pedagógica

O texto propõe a criação de uma residência pedagógica para os licenciados, que trocariam as 400 horas de estágio obrigatórias hoje, por um programa que eles estivessem semanalmente na escola, sob orientação de seu orientador da instituição formadora ou de um professor experiente.

A residência teria início no primeiro semestre da licenciatura.

  • Enade Licenciatura e prova para ingresso

Prevê a aplicação obrigatória de um Exame Nacional de Desempenho de Estudantes que serviria como uma habilitação à docência. A prova teria validade de cinco anos e poderia ser utilizada também como parte da seleção em concursos públicos.

Formação continuada

O documento propõe a articulação entre União, Estados, DF, municípios e instituições formadoras para a construção de uma pauta em comum e focada na formação de professores.

A formação continuada deve estar atrelada à evolução funcional ao longo da carreira do docente. As instituições terão que promover programas e cursos para a troca de conhecimentos, oportunidades de participação em eventos, seminários, encontros pedagógicos, projetos, entre outros.

  • Estágio probatório

Após o ingresso — que pode ser por prova nacional, concurso local, Enade, entrevista, portfólio ou prova local —, o professor local deverá ter, na escola ou em ambiente de aprendizagem de atuação, um mentor mais experiente que irá auxiliá-lo em suas atividades.

  • Plano de carreira e avaliação

Apesar de os planos de carreira serem regulados nos estados e municípios, a proposta é fazer uso da matriz de competência e habilidades comprovadas ao longo da carreira.

Os quatro níveis de proficiência incluem: inicial (recém-formados); probatório (profissional que estiver na fase de estágio e que deverá apresentar as novas competências e habilidades); altamente eficiente (carreira mais avançada e que deve apresentar competências mais complexas); e líder (nível mais alto da carreira e com responsabilidades mais amplos).

Dessa maneira, a avaliação permitiria a progressão e revisão salarial do profissional.

As competências esperadas pelos professores

Da mesma forma como ocorreu com a BNCC, o documento do MEC listou 12 competências esperadas pelo professor. Essas competências estão divididas em três dimensões gerais: conhecimento profissional, prática profissional e engajamento profissional.

Mesmo que colocadas separadamentes, na ação pedagógica não existe a divisão entre as três dimensões. Por isso vamos entender cada uma abaixo.

Conhecimento profissional

Está associado com a prática e se relaciona com o que existe na realidade concreta com as experiências direta dos indivíduos. Este conhecimento é vivo e está em movimento, e que se adquire na prática e experiências vividas.

Competências específicas:

  • 1.1 Dominar os conteúdos e saber como ensiná-los
  • 1.2 Demonstrar conhecimento sobre os estudantes e como eles aprendem
  • 1.3 Reconhecer os contextos
  • 1.4 Conhecer a estrutura e a governança dos sistemas educacionais

Prática profissional

Traz a oportunidade de viver no curso de formação os mesmos processos de aprendizagem que se quer ensinar o licenciado (e o professor na formação continuada) a realizar com seus alunos da educação básica.

Competências específicas:

  • 2.1 Planejar ações de ensino que resultem em efetivas aprendizagens
  • 2.2 Criar e saber gerir ambientes de aprendizagem
  • 2.3 Avaliar a aprendizagem e o ensino
  • 2.4 Conduzir as práticas pedagógicas dos objetos de conhecimento, competências e habilidades

Engajamento pessoal

É o compromisso moral e ético do professor para com os alunos, seus pares, a comunidade escolar do professor e os diversos atores do sistema educacional. O documento explica que é importante que a preparação do professor adote os mesmos princípios e valores propostos pelas normas curriculares.

Competências específicas:

  • 3.1 Comprometer-se com o próprio desenvolvimento profissional
  • 3.2 Estar comprometido com a aprendizagem dos estudantes e disposto a colocar em prática o princípio de que todos são capazes de aprender
  • 3.3 Participar da construção do Projeto Pedagógico da escola e da construção de valores democráticos
  • 3.4 Engajar-se com colegas, com as famílias e com a comunidade

Conclusão

Temos hoje no Brasil, segundo censos educacionais de 2017 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais de 2,5 milhões de professores, sendo a maior parte deles da educação básica (2,192 milhões).

Como vimos acima, a Base Nacional Docente pretende aperfeiçoar o processo de formação dos professores. Ela quer abrir a janela de oportunidade para que eles trabalhem de forma contextualizada e transversal na sala de aula.

É sempre bom repetir que a qualidade da educação está diretamente ligada à valorização do professor.

Além deste documento que servirá de referência para preparar os professores na era de transformações, os baixos salários e a falta de reconhecimento da profissão precisam correr em paralelo na discussão para mudar a realidade desses profissionais.

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